Como forma de propor reflexões na semana em que se comemorou o dia internacional da mulher, a Defensoria Pública, por meio do Núcleo de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher (Nudem) e da Escola Superior (ESDP/MS) realizou nessa sexta-feira (10) o workshop “Por uma escola mais democrática: pensando masculinidades e feminilidades”.
O evento teve transmissão ao vivo na internet e em diversas cidades do interior por meio de parcerias com as Secretarias de Educação de cada município. Apenas em Campo Grande, 162 pessoas assistiram ao evento que aconteceu no auditório da ESDP.
De acordo com a coordenadora do Nudem, Edmeiry Silara Broch Festi, o objetivo foi promover o debate entre diretores, coordenadores pedagógicos, professores das entidades de ensino municipais, estaduais e particulares de Mato Grosso do Sul, além de outros atores sociais envolvidos com a política de educação.
“Queremos que os docentes discutam sobre questões de igualdade de direitos entre meninos e meninas, incentivando a mudança de hábitos e buscando estratégias nas atividades de rotina dos educadores e educandos”.
O defensor público-geral do Estado, Luciano Montalli fez a abertura do evento e ressaltou a ‘importância de se investir na educação em direitos, abrir o debate, sair do conforto dos limites do conhecimento e escutar outras vozes, outras compreensões das mais diversas áreas do saber’.
“Direitos de mulheres e homens ainda são separados por um abismo, situação que coloca mulheres em desvantagem brutal. Problematizar os papéis sociais e desconstruir certezas até então compreendidas como naturais ou essenciais são atitudes educativas primordiais”, afirmou.
O evento contou com três palestras envolvendo questões de gênero e educação. A primeira abordagem foi feita pelo professor doutor do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Tiago Duque, sobre ‘diferenças, identidades e educação’.
O professor lembrou que as diferenças já estavam presentes no Brasil antes mesmo da colonização e que houve um momento na História, que aconteceu em diferentes países, de uma tentativa de transformar essas diferenças em uma unidade. ‘A escola foi fundamental nesse trabalho’, afirmou.
Segundo o palestrante, as diferenças não são naturais, nem mesmo as de gênero. “É preciso compreender como as diferenças são produzidas em nossa sociedade. Precisamos enxergar quando uma diferença passa a ser depreciativa e qual outra experiência está demarcando-se como hegemônica e apropriada”.
Em seguida, a defensora pública do Nudem Thaís Dominato da Silva explicou as razões de ainda ser necessário falar sobre violência doméstica.
Como respostas apontou dados alarmantes de violência de gênero, como uma a cada cinco mulheres já terem sofrido algum tipo de violência por parte de um homem; dois espancamentos de mulher a cada dois minutos; um estupro a cada 11 minutos.
De acordo com a defensora pública, as violências de gênero são manifestações das relações de poder historicamente desiguais entre homens e mulheres.
“Não há porque ter medo de discutir gênero nas escolas, pois isso significa questionar a desigualdade entre homens e mulheres, desconstruir a desigualdade. Não significa abolir leis biológicas ou interferir nas orientações sexuais. E o papel da escola é extremamente importante, os professores podem trabalhar pra prevenir essa violência, pois assim como o espaço escolar promove a violência de gênero e ressalta a desigualdade, ele também combater essas condutas”.
Na última palestra do evento, a representante da sociedade civil na Onu Mulheres Brasil e psicóloga, Vanessa Fonseca, questionou os papéis adotados por homens e mulheres na sociedade e afirmou que estes estereótipos são responsáveis por diversas formas de violências.
“Quando a gente olha para os modelos definidos de como devem se comportar homens e mulheres, dificilmente nos reconhecemos. Nem todos os homens e mulheres vão cumprir todos os papéis. Para nos encaixarmos, é necessário fazer um esforço enorme e quem fica de fora é visto como anormal, esquisito e é excluído de diferentes espaços”, disse.
De acordo com Vanessa, se a gente quer pensar como é que a construção do ser homem e mulher produzem desigualdades, precisamos também desconstruir os homens. “O movimento de mulheres vem discutindo o que é feminilidade há muito tempo. Mas não temos refletido sobre o ser homem. Ele, o homem branco e adulto é sempre o sujeito de referência”.
E como as violências estão relacionadas com as normas de masculinidade e feminilidade? Para a palestrante é na medida em que um homem não resolve seus conflitos com base em um desabafo, mas com base na violência. Na medida em que esperamos que uma menina seja delicada, acolhedora, cuidadosa, legitimando, assim, com que ela sofra violência calada.
Mas ela ilustra que não se trata de pensar modelos para as pessoas. “É o contrário. Modelos rígidos e grandes expectativas trazem consequências, pois não atendem às diferenças entre as pessoas. Os educadores precisam refletir sobre como estamos definindo meninos e meninas”.
Por fim, a palestrante apresentou formas de inserir os homens na prevenção da violência de gênero, por exemplo, com exercícios de grupos para eles pensarem em como todos nós nos constituímos como sujeitos e qual projeto de pessoa queremos ser. “Sempre lembrando que não existe direito de oprimir em uma sociedade que se pretende democrática”.
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