No Dia Internacional da Síndrome de Down, 21 de março, a Escola Superior da Defensoria Pública (ESDP/MS) reuniu especialistas para discutir linguagem e tratamento inclusivo às pessoas com deficiência no curso “Diálogos Interdisciplinares: mude seu falar, que eu mudo o meu ouvir”
Segundo a diretora da ESDP e defensora pública, Patrícia Elias Cozzolino de Oliveira, o curso foi pensando após a Defensoria observar dificuldades desde o diagnóstico até intervenções terapêuticas voltadas para pessoas com Síndrome de Down, principalmente nas cidades do interior do Estado.
“Eventos como este mostram que a Instituição está disposta a partilhar as responsabilidades da construção e efetivação de políticas públicas”, afirmou.
O evento contou com duas palestras. A primeira foi ministrada pela professora Joslei Viana de Souza, pós doutora em educação especial e membro da Sociedade Brasileira de Atividade Motora Adaptada desde 1995. Na Universidade Estadual de Santa Cruz, onde leciona, coordena o Núcleo de Esporte Educacional Adaptado e o Grupo de Pesquisa de Estudos e Pesquisas em Educação Inclusiva.
Em sua fala, a professora afirmou que precisamos mudar alguns olhares para surgir novos caminhos, além de acreditar na possibilidade das pessoas com deficiência.
“Mesmo com as questões que ainda existem de exclusão e preconceito, nós podemos mudar concepções equivocadas. Cada pessoa é um pacote indivisível de talentos e limitações combinados em proporções variáveis em função das oportunidades que a vida traz desde a concepção. Jovens, adultos e idosos são mais ou menos talentosos, ou limitados, dependendo dos recursos que o meio ambiente oferece”, explicou.
Também pontuou a visão que a sociedade tem das pessoas com deficiência desde a era primitiva. “Quando éramos nômades, apesar de não temos registros de como as pessoas com deficiência viviam, acredita-se que ficavam no abandono e morriam. Já na Roma antiga, eram afogadas por serem consideradas anormais e débeis. Na idade média surgiu a concepção de que as deficiências faziam parte do sobrenatural, muitas vezes como símbolo do mal. Já no cristianismo, passe-se do abandono para a piedade, são vistos como coitadinhos”.
Segundo a professora, apesar de vivermos num período de inclusão social, essa visão de piedade ainda é presente. Afirmou ainda que na idade moderna surgiu a segregação, com os asilos e hospitais psiquiátricos. “Eram como prisões”.
Hoje, de acordo com a pesquisadora, está sendo trabalhado o conceito do desenho universal. “Ao invés de alguns espaços serem adaptados, todos é que devem poder ser usados por pessoas com deficiência. O objetivo é oferecer a aprendizagem para todos. O conceito liga-se na educação tendo por base a acessibilidade para todos os alunos. O proposto é que a aula não vai ser acessível quando tiver apenas uma criança com deficiência. Ela deve ser acessível a todos”.
Experiência de mãe
Além de psicopedagoga especializada em educação especial, a segunda palestrante, Rosana Queiroz da Silva Rodrigues, também é mãe de uma jovem com Síndrome de Down. Na palestra, a professora abordou as dificuldades de lidar com as comorbidades que acometem os adultos com a doença. Segundo ela, os pais chegam na fase adulta de seus filhos e não têm as informações necessárias.
Também falou sobre a necessidade de dar autonomia às pessoas desde o início da aprendizagem e que toda rede de profissionais precisa estimular as crianças. “Minha filha tem carteira assinada, conta no banco, título de eleitora, mas tem muito juiz que não faz a interdição parcial, por não saberem de todas essas possibilidades, fazem a interdição total e aí mata-se a cidadania da pessoa”.
Como pedagoga, apresentou os processos de aprendizagem e as formas de lidar com crianças e adolescentes com a síndrome. “Acredito na alfabetização das pessoas com Down, mas as estatísticas são baixas, pois elas não são oportunizadas. É preciso estimular desde o nascimento. Quando nasce o bebê, a situação é tão complexa e difícil, que é preciso uma acolhida não só ao bebe, mas também à mãe”.
De acordo com Rosana, na escola, o profissional precisa ser multi, utilizar todos os recursos que tem. “Papel, massinha, areia, tudo o que estiver nas mãos. A escola não precisa de muito, mas os professores devem valorizar tudo o que têm e promover multi ações, além de ser necessária uma interação com a família, pois ela que tem as informações mais importantes para passar aos profissionais”.
Por fim, afirmou que a alfabetização não deve ser forçada. “É o aluno que se alfabetiza. Nós oferecemos as oportunidades”.